terça-feira, 8 de março de 2011

A MORTE DO VEADO

A Morte do Veado
Em relação ao que eu havia relatado sobre a morte do veado passou-se o seguinte:

Certo dia fomos à lenha e por norma eu levava sempre duas viaturas, mesmo que fosse com um mínimo de 8 homens ( o número de militares de um pelotão era de 30, mas raramente estaria presente este número, uma vez que havia sempre alguns de férias ou eventualmente doentes) A maior parte destes homens deveria manter a segurança do destacamento e assegurar também a limpeza e eventuais obras de manutenção ( ou novas) que tínhamos de fazer.

Uma das coisas porque " os meus homens" me criticavam era eu querer que estivessem sempre a trabalhar. Era verdade, por duas razões, uma porque havia necessidade de criarmos condições para vivermos com algum conforto e comodidade, o forno e as casas de banho são um exemplo, a outra era evitar o jogo da "lerpa", pois com muito tempo livre era só jogar e perderem o dinheiro que ganhavam.

Após termos carregado o "Unimog" com lenha iniciámos o regresso ao destacamento.

Como sabem numa coluna militar todas as viaturas deverão manter uma distância de modo a que não se perca de vista a viatura que nos antecede.

Acontece que havia uma lomba bastante grande e eu deixei de ver a viatura que vinha atrás, como demoravam eu resolvi sair da minha viatura e voltar atrás e ver se havia algum problema, felizmente estava tudo bem. Só que neste espaço entre as viaturas eu senti um barulho e pensei.., vou ser apanhado à mão(pensando que era o inimigo) então deitei-me na valeta e através dos arbustos tentei ver o que se passava, o que vi deixou-me estupefacto, pois nunca tinha acontecido, estava um belo e imponente veado junto a uns arbustos comendo.

Eu não tinha a minha G3 pois havia deixado ficar na viatura mas tinha uma espingarda caçadeira (propriedade do Alferes Pereira) que eu usava nas pequenas deslocações( nunca deixando no quartel a minha "Géninha", nome dado à G3 companheira inseparável) mas naquela altura deixei-a na viatura.

Fiquei como que galvanizado ao ver o animal, que não me lembrei de mais nada e fiz fogo(tinha arma carregada com um cartuchos de chumbo 5 e chumbo 3) com o cartucho de chumbo 5, o animal saltou, mas fui ao local onde estava quando disparei e verifiquei que estava ferido pois havia sangue no chão, fui atrás dele pelo meio da mata e reparei que estava parado junto a um tufo de vegetação com uma respiração ofegante, nessa altura atirei com o cartucho que me restava (chumbo 3) e o animal foi atingido e caiu mortalmente.

Foi este animal que depois foi assado e serviu para que o nosso comandante tivesse comido umas fatias. Nesse dia, também com a caçadeira e em movimento, atirei a uma perdiz que sobrevoava as viaturas e sendo eu um mau atirador consegui acertar numa asa da mesma tendo sido depois apanhada.

Tenho fotografias do veado mas não sei aonde(se algum camarada do meu pelotão tiver agradeço que me empreste para publicar) pode ser que um dia eu as encontre e publique.

Passado este tempo confesso que tenho pena, pois era um lindo animal.

Voltarei mais tarde para publicar outras lembranças, mas se algum de vós tiver também uma história mandem ou publiquem nos comentários.

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