sexta-feira, 9 de outubro de 2009

FREITAS MORNA



O Destacamento de Freitas Morna ficava situado na estrada que ligava Luanda a Ambrizete, muito próximo do Ambriz e de um outro Destacamento do qual já falei e que era o LOGE.


Este destacamento era um posto de controlo e servia também para vigiarmos uma ponte que ficava junto do mesmo.


Também daqui tenho algo para contar. Este destacamento era reabastecido de 15 em 15 dias, tempo demasiado para comer pão fresco, coisa que todos nós gostávamos mas que passados estes dias ficava cheio de bolor. Embora sabendo que ia ser criticado pois os meus rapazes diziam que nos destacamentos só nós trabalhávamos e os outros gozavam daquilo que tinhamos feito, perguntei se haveria alguém que soubesse fazer fornos. A resposta, sim, foi rápida, dada por alguns dos meus companheiros e após pedir os respectivos materiais e logo que os mesmos nos foram entregues começámos a construção do nosso forno. Deixámos de trazer carcaças e começámos a trazer farinha, depois coziamos pão quási todos os dias(pois além de um cozinheiro profissional tinhamos também um padeiro, profissões que já tinham antes de irem para a tropa)e ao mesmo tempo servia também para assarmos as nossas peças de caça .


Como sabem eu era avesso a irem á caça mas depois habituei-me e dava jeito comer carninha assada. Era só ter fome e ir ao forno cortar um pedaço de carne pois estava sempre um tabuleiro com ela. Sobre a carne assada e outros assuntos vou criar uma outra rubrica a que chamarei "curiosidades".

6 comentários:

  1. Como recordo este local e este destacamento. Aqui passei dezenas de vezes, a caminho de Ambriz, durante os 14 meses que estive (C.C.1463)em Quibala Norte, cerca de 100 km a nordeste deste local. Uma vez, ido de Luanda para a Quibala, num camião civil carregado de provisões, fui obrigado a pernoitar neste destacamento, por falta da escolta militar que só lá chegaria no dia seguinte. Foi em 1966. Sobre um banco corrido,de uma só tábua, tentei dormir. Mas a fome, os mosquitos e a péssima cama me puseram de vigília toda a noite. Foi só um leve castigo, porque permanecer em Quibala e percorrer as matas Sanga, Lemo e Luaia era bem pior.

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  2. Meu caro Sergio, obrigado por consultar este blogue. Foi bom ler o que escreveu.
    Apareça sempre por aqui.Um abraço.Catalo

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    1. Prezado José Catalo
      Passei há dias, em visita à ponte Freitas Morna, junto à torre de controle proximo da estrada.
      Chamou-me a atenção o facto de ser ainda visível a inscrição "Torre de Controle"...
      Se pretender a foto que tirei, escreva para: americodimas@gmail.com
      Cumprimentos
      AD

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    2. Ainda há cerca da Ponte Freitas Morna, ponte essa (a primitiva), construída em betão,já no período pós independência, foi dinamitada, por interesses e estratégias militares dos contendores UNITA vs MPLA.
      Presentemente, existe no local uma ponte militar metálica, sendo visível os restos da primeira ponte.
      Cumprimentos
      AD

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  3. Quanto à destruição da ponte de Freitas Morna ela “foi pelos ares” em JAN.1976, segundo p.a.marangoni (Pedro Marangoni) no seu livro “A Opção Pela Espada”. Após a designada Batalha de Kifangondo em NOV75, as forças do ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola) braço armado da FNLA de Holden Roberto, retiraram-se apressadamente para Norte com as forças cubanas avançando no seu encalço, apoiadas entre eles por tanques T-54/55 russos. Descreve Marangoni no seu livro, a dado passo a fls. 115:
    “Dia 8 de Janeiro de 1976 – Ambriz deserta, via sair o último Land Rover dos comandos, que teriam a função de guardar a ponte da fazenda Loge, fazendo-a explodir assim que todos os retardatários que viessem de Nambuangongo passassem para o norte. Na estrada principal, a ponte Freitas Morna seria destruída imediatamente após a passagem do meu grupo.
    No cruzamento, deixamos escritas no asfalto, com tinta branca, mensagens aos cubanos, prometendo voltar a nos encontrar; depois cruzamos o rio Loge e por volta das 13:00h, quando foram acionadas as cargas de TNT, a mais comprida ponte que encontrara até então em Angola virou um amontoado de cascalho no leito raso e largo do Loge.”
    Humberto Fernandes, ex. alf.mil. da C.ART.3447 (Luvaca) do B.ART.3859 (Cuimba) DEZ.71-FEV74, nas escoltas ao M.V.L. em FEV1973 e JAN1974, no eixo Freitas Morna, Ambrizete, São Salvador....

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  4. Caríssimo Humberto Fernandes, nunca li o livro que cita. A transcrição que faz sobre o relato da destruição da ponte deixa-me emocionalmente abalado. Aquela ponte - ali perdida, sem a "fama" das que unem as margens do grande Cuanza ou as militarmente tão faladas sobre o Dange ou o Zadi - foi para mim a mais importante que atravessei, dezenas de vezes. Ela permitia-me o acesso à civilização, naqueles 14 difíceis 14 meses em que me senti prisioneiro em Quibala Norte.
    Cordiais saudações.
    sergio.o.sa@sapo.pt

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